Reproduzo aqui entrevista feita por Luiz Roberto Guimarães da Costa Júnior.
O grande mestre russo Alexei Suetin esteve, recentemente, na USP para dar uma palestra e em seguida uma simultânea. Na palestra, Suetin, autor de livros como “Manual para jugadores avanzados” e “El laboratório del ajedrecista”, apresentou seu novo livro “Schach Training”, em alemão, ainda sem tradução para inglês ou espanhol.
O GM Suetin, que além do russo fala muito bem o alemão e entende um pouco de espanhol, esteve acompanhado por um tradutor simultâneo durante a palestra. Suetin disse que nasceu numa aldeia chamada Tula onde não havia treinadores de xadrez e teve que se desenvolver por experiência própria, antes de entrar no Palácio dos Pioneiros, em 1939, com 12 anos. Entretanto, com advento da segunda guerra mundial e, quando Hitler invadiu a antiga URSS, parou por 4 anos só voltando a dedicar-se em 1947 com 20 anos e já formado.
Na palestra, Suetin colocou que o xadrez requer um trabalho regular e muita prática. Mas só prática não resolve. É preciso aliar a prática com estudos caseiros, devendo-se jogar com jogadores mais fortes para progredir. Quando se disputa um torneio, devemos anotar as partidas e depois analisá-las, principalmente as que foram perdidas. Devemos evitar a tendência natural para analisar apenas as que ganhamos. Precisamos de atenção, necessária para ser um bom jogador e evitar erros grosseiros. Como o próprio Suetin colocou: “não adianta ter 40 boas jogadas se uma ruim perde”.
Para ser um bom jogador devemos ter atenção, paciência, caráter e domínio de si próprio. Sentar com “sede de ganhar”. Em comum os campeões mundiais tem essa “sede de ganhar” além da coincidência de terem tido infâncias difíceis (separação dos pais ou perda deles muito cedo, estimulando uma maturidade precoce). Para progredir devemos jogar de 40 a 50 partidas sérias por ano. Uma vez por semana jogar “blitz” (Relâmpago) e mais cerca de 100 partidas de active chess por ano (30’). Deve-se estudar uma ou duas vezes por semana, duas ou três horas cada vez.
Entretanto, devemos fazer um esforço concentrado, caso não tenhamos muito tempo, não bastando ler, mas devendo-se esforçar o cérebro: analisando e comentando as próprias partidas, resolvendo estudos, problemas e estudando aberturas. Sobre aberturas devemos estudar bem uma ou duas aberturas de brancas e pretas antes de querer aumentar a variedade. Devemos ter um caderno para anotações com informações sempre completas. Nossa visão do jogo vai mudando com o progresso, por isso devemos manter sempre atualizadas as nossas anotações. Um bom jeito de desenvolver o espírito de luta, a visão e a estimativa de variantes é com a prática.
Colocar uma posição no tabuleiro e analisá-la por meia hora sem mexer as peças. Após analisar, escrever todas as variantes e depois comparar com o que foi escrito em algum livro, progressivamente devemos procurar reduzir o próprio tempo e ao mesmo tempo aumentar o leque de variantes analisadas.Também é proveitoso resolver estudos e problemas.
Para formar uma cultura enxadrística, devemos estudar partidas famosas, concentrando-se num jogador, por exemplo, Capablanca. Depois de dominar bem sua estratégia e seu tipo de jogo, temos uma potencialização maior para poder escolher outro depois. O tempo de estudo deve ser dividido entre aberturas, meio-jogo, finais, resolução de estudos e problemas, para manter a cabeça ativa. Suetin recomenda estudos de finais, pois, raramente se joga bem as finalizações. Karpov é uma exceção, pois estudou muito final, além do tipo de jogo de Capablanca e suas estratégias.
Suetin destacou que um estudo sistemático como esse, durante um ano, faria uma pessoa chegar a mestre internacional! Para atingir isso, temos de desenvolver o pensamento, e ter uma boa memória torna-se importante. O problema no Brasil é a falta de apoio ao xadrez que poderia se desenvolver mais, segundo Suetin. E é importante também ter diretrizes para se desenvolver o xadrez e manter contato com GMs e MIs para progredir.
O GM Suetin disse que dos 300 milhões de habitantes na Rússia cerca de 6 milhões jogam xadrez. Disse que nos EUA uma aula de xadrez é cobrada na base de 20 a 30 dólares, enquanto na Rússia as aulas são oficiais e de graça. Sobre o nível dos jogadores brasileiros, Suetin considerou bom e sobre o Brasil disse que achou um paraíso. É a primeira vez que esteve aqui, antes havia passado apenas de avião como escala para ir a Argentina.
Vi No ccx